sexta-feira, junho 30, 2006

retrato em preto e branco

As paredes ainda têm gosto de cal. Se meus cabelos ficarem brancos, é que voltaram à cor original.
Falsas oferendas para falsos deuses. Pobres flores.
Pobre dela. A gangorra não sobe nem desce, está sempre em equilíbrio.
Naquela época lhe encantaria qualquer coisa que eu dissesse.
Naquela época, o sol subia, implacável, dotando a brancura de pequenas ilhas. Constelações nadando no creme das nossas peles. Melanoma basal.
"com esse maiô, você parece uma frutinha" mas o maiô era preto.
Minhas lembranças mais tenras usam bóias de braço. Bom que não se afogam.
Vovô nos levava ao parque da água preta. Eu pregava botões em panos brancos.
Tudo me parece agora
figurinhas autocolantes de fauna e flora
cartazes de cartolina e aquele livro das fadas, dos animais de nuvem e dos oito horizontes.
Eu ria toda vez que ouvia palavrão.
Ela se chamava marina e me achava linda. Um dia enjoei dela e disse que o passarinho de massinha representava nossa amizade, com a maior esperança de que o material frágil se desfigurasse. As unhas do pé do pai dela eram pretas.
Naquelas férias eu quebrei o braço num brinquedo do parquinho e não conseguia dividir as frações, não podia segurar a régua.
Não doeu. Tirar o gesso faz cosquinhas, o braço fino e empoado, todo maquiado pra receber mais uma vez a luz do dia.
Decepções maiores, só depois. Mas sem lágrimas.
Eu odeio chorar em público.

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ah. me resenharam :)
http://www.fotoclubef508.com/?id=286

segunda-feira, junho 26, 2006

para miss R.


Contra tempo?
nada!
a favor:
conta o tempo
a conta gotas
com todo o amor

sábado, junho 24, 2006

Uma maluquice idiota e cheia de palavrão (depois não digam q eu não avisei)

Ele e o chão. Ele e os barbitúricos. O vaso sanitário de tampas
levantadas vigiava tudo, soturno e acolhedor.
"Venha", ele dizia ,"venha comigo que te mostro o outro lado da historia", o vaso dizia.
Hans ouviu mas continuou encarando os arabescos dos azulejos. Não era
de bom tom conversar com privadas, por mais anestesiado que você
esteja. "Venha, vamos. Minha água é limpinha e azul." concentrou-se
nos azulejos. Uma meia lua, uma bordinha decorada. Uma florzinha em
cada canto. Eram todos iguais. Passou os dedos pela argamassa que os
unia e aparecia em filetes, áspera. Passou as unhas pelas bordas de um
dos quadrados, mas como este não fazia menção de se soltar do piso,
voltou o olhar para cima.
" Não me ignore. você sabe que eu estou aqui. Eu também sou feito de
louça, sabe?" o vaso disse, sedutor. No teto, duas lâmpadas, daquelas
fluorescentes. Encarou, depois fechou os olhos e observou as sombras
das luzes dançarem nas pálpebras baixadas, provando que os olhos não
precisam estar abertos para ver. " O que você quer de mim, herr sanitário?
Diga logo ou deixe-me em paz." " Não sei. Companhia. Uma boa conversa.
Quem sabe até um carinho?" " Carinho não. Sabe lá deus quem andou
sentando em você." "preconceituoso" " vaso de merda" " drogado de
merda" " calaboca" " vem calar".
Hans acariciou os cadarços dos sapatos. " covarde. fica aí com teus
sapatinhos" " calaboca"
" ai, eu tenho sapatinhos. meu nome é hans e
eu adooro meus sapatiiinhos..." Hans fechou as tampas do vaso com
violência, e se aboletou por cima dele. " toma essa, ô porcelana" "ficou bravinho que eu ofendi seus sapatinhos, foi?" As privadas não
precisam estar destampadas para falar. " ok. Tá bom então. Qual o
grande problema com o meu sapato?" " nenhum, ´magina..." " não, vai.
Pode falar" " ah, e quem sou eu pra criticar o calçado alheio?" " uma
privada de banheiro público. Caso você não lembre." " tá bom. Quer
saber qual o problema com teu sapato?" "vai fundo" " ele é um imbecil"
" como assim , um imbecil?" " imbecil. Um sapato imbecil. Sabe?
BURRO. Teu sapato é BURRO. Se você tivesse se drogado o suficiente pra
ouvir o que ELE diz, você ia saber do que eu estou falando." " é ,
pensando bem ele não tem cara de ser muito esperto mesmo...vai sapato,
diz uma merda pro Sr. Sanitário aqui!" e esfregava os tênis na
porcelana. " pára com isso, pô!" Hans ria desbragadamente. " Pára!
Pára!" A descarga disparou e não queria parar mais, hans levantou do
vaso: " você está bem?" a voz de dentro da porcelana saia num
gargarejo. Hans encontrou um jarro de água sanitária e despejou,
trôpego, no redemoinho.O gargarejo aumentou, a descarga continuava
ecoando e então parou. " sanitário? sanitário?" nada. " Sanitário,
fala comigo!!" ele à beira das lágrimas, mas nada. As luzes
fluorescentes ainda brilhavam, e sob elas piscavam as ilhoses dos
Tênis, malignamente.

quarta-feira, junho 21, 2006

araça blues 2

Há algo de belo que emana
do solo profano
de Araçariguama

(talvez a falta de planos
ou talvez seja só
o cheiro da grama)

Mas não. É sede
de conversa e de rede
de quatro paredes
de umas latas de brahma

ah :)
eu queria ser feliz assim
pelo menos uma vez por semana.

sexta-feira, junho 16, 2006

(seria tolo pôr um título neste daqui)

Planavam no ar, como como se alguém houvesse aberto uma pasta de papéis da janela do décimo andar. Planavam no ar, preguiçosas, e cortavam de leve minha pele, antes de tocar no chão. Aquelas angústias. Ela escutou meus passos e emergiu de um arbusto de azaléias. Lábios pintados de um tom forte, cor de uva, e os joelhos sujos de terra como quem, preparada para sair, sentira uma necessidade determinante de arrancar as ervas daninhas. Uma combinação inusitada. Sempre fôra.Toda ela, uma combinação inusitada.Bikini com capa de chuva, feijão com amendoim. Meio boa, meio ruim.
Ela enxugou o suor da testa e, entrando em casa, disse "vem". Saindo do ar iluminado, a casa parecia toda preta."Água?" " Por favor". Os móveis pesados e marrons entraram em foco e eu bufei de calor, arregaçando as mangas da camisa. Lá vinha ela, um guarda-chuvinha dançando tolamente no copo d´água. Agradeci.
O mundo de Loretta é regido pelas leis mais improváveis. Ela só pode cantar quando dorme e só pode dormir quando deita e só deita quando se entristece. Ela sempre canta chorando. Ela sempre chora cantando, e nem o sabe, e nem o sabe... o mundo de Loretta é regido pelas leis mais cruéis. Ela só pode amar homens chamados Raul. Disso ela sabe. Ela só consegue amar Rauls, e eu tinha que me chamar Aurélio.
Loretta, Loretta. " Te trouxe um presente", e dei a ela uma caixinha de doce de abacaxi. Cheia de amargura, mas ela não percebeu. Era uma despedida, e ela não percebeu. Eu agonizava ali, e ela... ela comeu um dos docinhos, o açúcar de confeiteiro aderindo ao batom. Comeu tão sincera que eu até parei de doer um pouquinho. " está gostoso?" Ela respondeu com uma risadinha que levantou uma nuvem de açúcar. Acho que foi um sim.
O silêncio depois foi constrangedor e endurecido. Disse alguma coisa a respeito das tulipas no jardim. Estão bonitas. O guarda-chuvinha abria e fechava de verdade, eu o rolava entre os dedos. Levantei os olhos e me queimei nos dela, do outro lado da mesa, tão fixos em mim, meu coração até se atrapalhando na ordem das batidas. Mas acontece que não. Acontece que eu me chamo Aurélio.
" o quê foi?"ela. " nada, só estava pensando umas coisas" eu. "ah." E eu estava mesmo. Em como tudo é absurdo. Sabe. O problema não é a gente se quebrar. O problema não é a gente ter que se montar de volta. O problema é o quanto a gente se corta com os próprios cacos. Ela veio e passou os dedos no meu cabelo. Só que eu me chamo Aurélio. Por isso eu agradeci por tudo e disse tchau.
Só que não cheguei a levantar por quê ela sentou no meu colo, lambeu o dedo indicador e o encostou na minha testa. " Pronto. Agora teu nome é Raul".

segunda-feira, junho 12, 2006

ainda é dia 12

A chuvinha tamborilava
os ecos enchendo
o oco da casa
gotas tolas
não precisavam me chamar
elas estavam onde eu estava

A chuvinha tamborilava
os ecos enchendo
os ocos da alma
gotas gentis
a água que corre
é a água que lava

A chuvinha tamborilava
os ecos enchendo
os olhos da cara
gotas queridas
eu quase as amo
como eu o amava.


sábado, junho 10, 2006

Stella was a diver and she was always down

Assim, sem mais, sem convite, sem nada, as Fúrias apareceram para jantar. Tocaram a campainha e veio à porta uma Estela descabelada e de pantufas, uma Estela aturdida de um fim de tarde de domingo.

“Já lhe ocorreu” disse a primeira das Fúrias, amanteigando um pãozinho “que talvez ela seja simplesmente melhor do que você?”. Estela trazia uma bandeja com azeitonas e queijos em palitinhos, pousou-a sobre a mesa: “Mais freqüentemente do que eu gostaria”. “ O que você gostaria não vêm ao caso, pequena. E mesmo se viesse não faria diferença. Me passe o guardanapo, querida.” A segunda Fúria se servira de uma azeitona e agora partia o palito em pedacinhos. “ Ora, não seja desagradável, maninha. Estela não tem culpa de ser medíocre. E, quem sabe?, se ela se esforçar bastante pode até ser boa em alguma coisa algum dia...” E com uma minúcia irritante, transformou a pilha de palitos numa minúscula torre Eiffel.

A terceira Fúria insistia que queria um Bloody Mary, mas não havia suco de tomate na casa.
“Não prefere uma caipirinha?” “ Que desfeita! Você sabe muito bem que eu só tomo Bloody Marys!” até que a primeira Fúria interviu e com um gesto aborrecido transformou um copo d´água num Bloody Mary e o ruído arrefeceu. “O que vamos jantar?” , arriscou Fúria dois.

Tinha um frango no forno e ele estava pronto. Batatas também. Sorvete de sobremesa.
“Acha mesmo que deveria estar comendo essas coisas?”. Pantufas se arrastaram até a cozinha e Estela começou a destrinchar o frango. Manuseava a faca com tanta satisfação que pela primeira vez na morte o frango ficou feliz por não estar vivo. Alguma voz vinda da sala de jantar lhe dizia que Estela deveria ter aprendido a bordar, isso sim era coisa de menina direita e me dê outro Bloody Mary. Ou algo assim. Daí ela se lembrou, sorriu e carregou na bandeja os despojos mortais da ave com batatas, sendo recebida em sua entrada triunfante com um “parece meio seco” e um “que droga, achei que íamos comer peixe”.

Comeu silenciosa, impermeável aos “Fulana sabe fazer Cordon Bleu”s e “você chama isso de batata?”s. Então disse, como quem não quer nada: “Puxa vida, não está na hora da novela?” As três Fúrias se entreolharam aturdidas, cruzaram os talheres, agradeceram muito por tudo mas é que elas tinham que ir indo, tinham que ir indo, porque pode chover e pegaram uma sombrinha de dentro do armário de toalhas e sumiram porta afora. Estela recolheu a louça e se serviu de uma cumbuca de sorvete. Podia não saber de muita coisa, mas de uma coisa ela sabia. Fúrias são feitas da mesma matéria que as tias-avós.

quinta-feira, junho 08, 2006

do improviso

há de não se deixar que as palavras
envelheçam dentro de si.

terça-feira, junho 06, 2006

tem dias que eu visto meu melhor sorriso e é pra você, é pra você, é pra você...

Queria vê-lo sorrir.
pelo menos uma vez.
quem sabe pra vê-lo feliz
ou por curiosidade, talvez.

queria vê-lo sorrir,
mesmo que isso me cegue,
eu preciso vê-lo sorrir
preciso saber se você consegue.

Todo o resto do mundo
eles sorriem tanto e sempre
tantas bocas
tantos dentes
vai que você está certo, de repente?
vai que o melhor é abraçar a amargura
niná-la no peito
pra que não seja tão dura...
Ainda assim, queria vê-lo sorrir.
Mas se não puder sorrir

então ao menos me beije.

segunda-feira, junho 05, 2006

cores.

“Olá, bonequinha”.Ele era gordo, suado e tinha um bigodinho fino à la anos vinte, mas os dentes eram bonitos. Bonequinha olhou pra ele, e não se deu ao trabalho de anexar nenhum afeto àquele olhar. “Faz muito tempo, não?” Ela assentiu com a cabeça e esboçou um sorriso. Precisava da grana. O homem do Bigodinho afrouxou a gravata – era uma gravata cinza e curta demais – e disparou: “Os preços não subiram, certo?” “Depende do que o senhor vai querer”. Ela não parecia mais com a moça que ele conhecera.

Bonequinha empurrou o cabelo para trás da orelha, e o guiou pelo corredor, deixando atrás de si o som espalhafatoso dos saltos no chão. Bonequinha se chamava Lígia. O do Bigodinho dizia a ela que se chamava Amilton, mas seu nome de verdade era Milton. Ele achava que tinha um grande senso de humor.

A porta do apartamentinho foi aberta: paredes amareladas, cobertas de infiltrações, cantos empoeirados, uma janela gradeada coberta por uma cortina docemente patética de veludo rosa. “Bonito, aqui”.Ele mentiu. “Bem... na moda”.

Ela foi desabotoando o casaquinho, sem fingir que acreditava, “Pois é. Saiu na Marie Claire: O sujo é o novo limpo”, e livrou Milton do paletó suado antes de erguer o vestido por sobre a cabeça.

Então sexo, é claro.

Enquanto ele resfolegava, Lígia fez o cálculo da conta. Se a profissão fosse legalizada preencheria até um recibinho. Já tinha posto calcinha e sutiã e agora escorregava para dentro do vestido. O homem observou ela contar as notas, abotoando a camisa. “ Não se ofenda com a pergunta...” hesitou “ mas... porquê faz isso?” “Isso o quê?” “Isso” “ah.”

Ela sentou na cama, para amarrar a sandália. “Diga primeiro. O que o senhor acha dos camaleões?” “o bicho?” “é”. Ela destrancou a porta e eles saíram para o saguãozinho do elevador. Ele acendeu um cigarro. “ Acho que são uns bichinhos espertos. Podem ficar da cor que quiserem, não é mesmo?” Ela abriu a porta com o número do andar, ele entrou. Ela sorriu e: “Não. Se pudessem, talvez ficassem para sempre laranjas. Ou azuis. Mas tudo que podem fazer é mudar e mudar. E ser sempre da cor que as coisas são.” Ela já tinha fechado a porta do elevador e a máquina ia descendo, quando o gordinho reparou que não se despedira e murmurou enfumaçado “Adeus, bonequinha...”

sexta-feira, junho 02, 2006

Como se fosse hoje

Eu dormia. Eu semi-dormia. E apesar de estar perfeitamente semiconsciente do meu corpo estirado na cama me pareceu que tudo que tinha acontecido acontecia (pela primeira vez? De novo?) naquele momento exato.

Eu estava na sala, com estrelinha vermelha no chapéu, e a estrelinha piscava. Na mesma sala, mais 6.

Quatro: está faltando alguém.

Dois, cinco, um: noooosa! É! Quem ta faltando?

Todo mundo se pôs a contar. Não faltava ninguém. Estava todo mundo na sala, mas é que a gente costumava viajar com mais gente. A três foi no banheiro, e quanto voltou, dois virou pra ela:

Dois: três, olha isso, olha isso!!!- três olhou . dois cortou o ar, na vertical duas vezes- “duas vezes...”- cortou o ar na horizontal- “...no cartão!”

Risos gerais. Três: O quê?

Dois: duas vezes...no cartão!

Três: não peguei. É tipo a piada do Buda branco?

Vários: que piada do Buda branco?

Três: como vocês não conhecem a piada do Buda branco!?

Sete/Eu: Eu conheço a piada do Buda branco!!

Quatro, cinco: conhece?

Sete/Eu: não...

Três: pô gente! A piada do Buda.

Um: do Buda.

Vários: o Buda...

Quatro: o Buda de bermuda!!!

Risos. Não era coincidência, mas estávamos todos de camiseta vermelha. Números um e dois trouxeram bebidas da cozinha. Estavam horríveis, mas bebemos mesmo assim.Virei-me na cama e repuxei o lençol. Acho que babei um pouco no travesseiro também. De repente estávamos todos numa roda, de pé.

Quatro: todo mundo aqui parado. Parece uma ilha...

Cinco: que nem no pinóquio. A ilha dos burros. (risadas)

1,6, 4: como assim, ilha dos burros no pinóquio?

2,5,7:. Eles levavam as crianças malvadas pra lá e deixavam elas beberem e fumarem e jogarem. Depois de um tempo elas viravam burros e eram usados pra puxar as carroças que transportavam as crianças pra lá...

quatro: nossa, que medo.

Silêncio. Cinco: qual era o nome dos três porquinhos?

Dois: (pensa um pouco) os sete anões são: Leonardo, Donatello, Rafael e Michelangelo.

Gargalhadas gerais. Quatro: ta faltando alguém.

Sete/eu: tá todo mundo aqui, quatro. Ó: todos os sete.

Quatro: tá faltando o oitavo.

Um: Alien. O oitavo Passageiro.

Sete: ah, sim. O alien. ( cinco começa a passar a mão na cabeça comprida do alien imaginário). O nome dele é Otávio.

Seguem-se diversas piadas e brincadeiras com o Otávio. Eu começo a folhear “O manifesto comunista em quadrinhos”. Era a festa cubana e estávamos esquecendo de ser comunistas.

1 a 7- viva la revolución!!!!!!!

1 a 7- VIVA LA REVOLUCIÓN!!!!!!!!!!

Otávio: grrrrrrrr.

Cinco: calma, Otávio, calma. Malditos comunistas sujos. Hahahaha. Como nós somos desagradáveis.

Eles continuaram conversando, mas eu não prestei atenção porque o estado de semi-consciência virou um estado de por-pouco-não-consciência, e eu levantei da cama e tentei acordar a quatro e convencê-la a me ajudar a procurar uma pomada porque minha frieira estava doendo, mas não deu certo e eu voltei a deitar. Sentados na sala eles falavam coisas sem sentido algum.No primeiro silêncio que se seguiu eu disse:

Sete: Eu nunca fui muito fã do sentido, mas...pra ONDE ELE FOI?

Dois: (riso) A sua cara. Aposto que você está há um tempão esperando uma oportunidade de dizer isso.

Sete: (riso) Sim.

A quatro pegou um livro infantil e começou a ler em voz alta. Foi ridiculamente divertido não porque o livro era infantil, mas porque era em alemão. E tinha uma história sobre um menino que chupava o dedo, com uma linda ilustração de um cara aparecendo de repente e cortando o dedo do menino com uma tesoura. Sangue pingando numa pocinha no chão e tudo. Os alemães são realmente ótimos com crianças.

O meu relógio cada hora dava uma hora diferente. Era meia-noite e depois eram nove horas e depois eram 5. Achei melhor tirar o relógio.

Na cama, temi que a frieira me devorasse, e pela manhã só encontrassem os meus oclinhos na cabeceira.

No sofá, dois era o maestro de uma orquestra de risos.

2: (apontava pra 1)

1: hahahahhaha!

2: (apontava pra 3)

3: hahahahha

2: (gesto geral)

todos (1,3,4,5,6,7):hahahahahaha!

2: (levantando as mãos, as palmas abertas viradas pra cima)

todos: hahaHAHAHAHA!

2: (aquele gesto que o Jô soares faz)

todos: silêncio.

Colocamos a batata no forno mas ela não ficava pronta nunca. Enquanto isso, 1 tentava convencer 4 de que estávamos todos normais menos ela (4).

1: é pegadinha!!! (e apontava para a parede) Olha a câmera ali!!

Tenho a impressão de que quatro acreditou. Alguém checou as batatas pela décima vez. Ainda não estavam prontas.

1 e 2 e 6: vamos pra cozinha. Todo mundo pra cozinha!

Fomos todos.

1:vai. Todo mundo perto do fogão.

3: pra quê?

1: vamos fazer calor humano pra ver se elas não assam mais rápido.

Risos.Todos obedientes ao redor do eletrodoméstico.

Sobre o colchão, me virei de novo, resmungando alguma coisa. E o barulho que a gente fazia no resto da casa não me deixava dormir.

***

hoje, completo um ano destes improvisos. mesuras a todos.