terça-feira, dezembro 12, 2006

do porquê e como pular corda

E descobri que 2,19 jardas de nylon podem ser minha terapia. Então quando vem aquela pressão no peito que não se sabe o que fazer com ela, eu pulo corda. Daí, quando os cubos de gelo brincam de bolinha de pinball nas minhas entranhas, eu pulo corda. (E quando você não é bom comigo, eu pulo corda). Quando o tempo se recusa a passar, ou quando o ar fica pegajoso, quando eles se esquecem de mim, quando a água fica represada lá dentro, quando o sorriso é grande demais pra vestir nos lábios, quando existem coisas que deviam voar mas não voam, quando me voltam os tremeliques nas mãos, quando caem pequenas coisas das sacadas de prédios (que tem isso comigo? Não sei.), quando o coração se debate em sua pequenina gaiola torácica. Isso. Eu pulo corda.


Tem que pular sem contar os pulos e começar devagar. Se houver dor, segurar apertado os guidões. Se houver raiva, estalar com barulho a corda no chão. Mas sempre com leveza e com os pés bem juntos, à la boxeur. E então rápido. E deixar as coisas irem sendo esquecidas. Escutar com cuidado o zunido que atravessa o ar. Olho aberto ou fechado, como preferir. Quanto mais rápido você pula, mais você pula e quanto mais você pula, melhor você pula e quanto melhor, mais rápido. Às vezes é suficiente pra derreter os cubinhos de gelo, pra movimentar o ar em volta, pra pressão distrair do peito, pra o que for. Às vezes não. Às vezes há ao menos o casulo girante e ligeiro de nylon que nem precisa mais bater em lugar algum. E as pontas dos pés tocando de quando em quando (e cada vez menos) o chão.