sexta-feira, novembro 10, 2006

uma questão de quando e onde

Bonito era ter nome de lugar, não de data, como o meu (tentei avisar mamãe de dentro da barriga, mas acho que não adiantou). Um nome que representa algo sempre ali, não um dia do ano. Não uma tradição secular, mas algo vivo e mutável e, ah, tão mais belo! Um nome que implicasse a multidão que habita cada um, tudo que se edifica e se destrói num fluxo constante de coisas e seres. Queria mesmo era ter nome de lugar.

Se eu me chamasse Paris, eu seria elegante, culta, triunfal. As pessoas que me conhecessem diriam espantadas: “menina-luz!” .

(Se eu me chamasse Escócia, teria um fraco por homens de saia. E ninguém gostaria de mim antes de eu ter 8 anos)

Se eu me chamasse América, eu seria espalhafatosa e indomável. Colossal. Acolhedora. E as pessoas que me fossem apresentadas não resistiriam a um sorriso e às palavras “ Descobri a américa!”, desconcertadas quase de imediato com a tolice do trocadilho.

(Se eu me chamasse Veneza, meu sangue correria em canais e seria navegado pelo amor em minúsculas gôndolas.)

Se eu me chamasse Roma eu seria imemorial, eu comeria mais massas, eu andaria torta e congestionada. Se eu me chamasse Roma, eu seria o inverso do amor.

(Se eu me chamasse Geórgia -o país, não o estado- seria ainda mais estranho ter nascido no mesmo dia que Stalin.)

Se eu me chamasse Rússia eu daria dois litros de vodka a cada elefante. Eu seria brava e dona de muitos chapéus. Se eu me chamasse Rússia, faria mais sentido a minha parte Cirílica.

(Se eu me chamasse Flórida, eu seria muito infantil. Se eu me chamasse Amsterdã, eu seria interpretada por Leonardo deCaprio)

Se eu me chamasse Brasília, eu seria branca e calculista. Planejada. Ah, sim. E estariam sempre me confundindo com aquela tal de Buenos Aires.

( Se eu me chamasse Dinamarca, eu teria um cachorro enorme)

Mas eu me chamo Natal. E eu só aconteço em dezembro.