amadores
De roupa, na água, eu brincava de Ofélia. Ofélia na sua fase louca, boiando na água entre as pequeninas flores amarelas que caíam na piscina suja. Era meu aniversário, por isso o mergulho forçado, o vestido empapado flutuando feito cabelo de sereia. Não puderam me convencer a sair de lá. Não sem entrar. Vem menina, vem que tá frio... Vou não. Vem que a gente quer cortar o bolo. Vou não. Vou ficar aqui sozinha, furando com os dedos a película d´água. Apaguei as velinhas jogando pra cima uns espirros d´água, a mão em concha. Umas florzinhas no bolo, comam à vontade. Eu rasgava um chapeuzinho de papelão já mole, quando ele entrou na piscina, calça jeans e tudo, a água subindo pelas fibras da roupa mais rápido do que ele submergia. Círculos concêntricos. Toquei com os pés o chão de azulejo. Abaixo do céu cinzento, abaixo da sujeira e das flores, abaixo da linha d´água, ele segurou minha mão.
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