sexta-feira, junho 02, 2006

Como se fosse hoje

Eu dormia. Eu semi-dormia. E apesar de estar perfeitamente semiconsciente do meu corpo estirado na cama me pareceu que tudo que tinha acontecido acontecia (pela primeira vez? De novo?) naquele momento exato.

Eu estava na sala, com estrelinha vermelha no chapéu, e a estrelinha piscava. Na mesma sala, mais 6.

Quatro: está faltando alguém.

Dois, cinco, um: noooosa! É! Quem ta faltando?

Todo mundo se pôs a contar. Não faltava ninguém. Estava todo mundo na sala, mas é que a gente costumava viajar com mais gente. A três foi no banheiro, e quanto voltou, dois virou pra ela:

Dois: três, olha isso, olha isso!!!- três olhou . dois cortou o ar, na vertical duas vezes- “duas vezes...”- cortou o ar na horizontal- “...no cartão!”

Risos gerais. Três: O quê?

Dois: duas vezes...no cartão!

Três: não peguei. É tipo a piada do Buda branco?

Vários: que piada do Buda branco?

Três: como vocês não conhecem a piada do Buda branco!?

Sete/Eu: Eu conheço a piada do Buda branco!!

Quatro, cinco: conhece?

Sete/Eu: não...

Três: pô gente! A piada do Buda.

Um: do Buda.

Vários: o Buda...

Quatro: o Buda de bermuda!!!

Risos. Não era coincidência, mas estávamos todos de camiseta vermelha. Números um e dois trouxeram bebidas da cozinha. Estavam horríveis, mas bebemos mesmo assim.Virei-me na cama e repuxei o lençol. Acho que babei um pouco no travesseiro também. De repente estávamos todos numa roda, de pé.

Quatro: todo mundo aqui parado. Parece uma ilha...

Cinco: que nem no pinóquio. A ilha dos burros. (risadas)

1,6, 4: como assim, ilha dos burros no pinóquio?

2,5,7:. Eles levavam as crianças malvadas pra lá e deixavam elas beberem e fumarem e jogarem. Depois de um tempo elas viravam burros e eram usados pra puxar as carroças que transportavam as crianças pra lá...

quatro: nossa, que medo.

Silêncio. Cinco: qual era o nome dos três porquinhos?

Dois: (pensa um pouco) os sete anões são: Leonardo, Donatello, Rafael e Michelangelo.

Gargalhadas gerais. Quatro: ta faltando alguém.

Sete/eu: tá todo mundo aqui, quatro. Ó: todos os sete.

Quatro: tá faltando o oitavo.

Um: Alien. O oitavo Passageiro.

Sete: ah, sim. O alien. ( cinco começa a passar a mão na cabeça comprida do alien imaginário). O nome dele é Otávio.

Seguem-se diversas piadas e brincadeiras com o Otávio. Eu começo a folhear “O manifesto comunista em quadrinhos”. Era a festa cubana e estávamos esquecendo de ser comunistas.

1 a 7- viva la revolución!!!!!!!

1 a 7- VIVA LA REVOLUCIÓN!!!!!!!!!!

Otávio: grrrrrrrr.

Cinco: calma, Otávio, calma. Malditos comunistas sujos. Hahahaha. Como nós somos desagradáveis.

Eles continuaram conversando, mas eu não prestei atenção porque o estado de semi-consciência virou um estado de por-pouco-não-consciência, e eu levantei da cama e tentei acordar a quatro e convencê-la a me ajudar a procurar uma pomada porque minha frieira estava doendo, mas não deu certo e eu voltei a deitar. Sentados na sala eles falavam coisas sem sentido algum.No primeiro silêncio que se seguiu eu disse:

Sete: Eu nunca fui muito fã do sentido, mas...pra ONDE ELE FOI?

Dois: (riso) A sua cara. Aposto que você está há um tempão esperando uma oportunidade de dizer isso.

Sete: (riso) Sim.

A quatro pegou um livro infantil e começou a ler em voz alta. Foi ridiculamente divertido não porque o livro era infantil, mas porque era em alemão. E tinha uma história sobre um menino que chupava o dedo, com uma linda ilustração de um cara aparecendo de repente e cortando o dedo do menino com uma tesoura. Sangue pingando numa pocinha no chão e tudo. Os alemães são realmente ótimos com crianças.

O meu relógio cada hora dava uma hora diferente. Era meia-noite e depois eram nove horas e depois eram 5. Achei melhor tirar o relógio.

Na cama, temi que a frieira me devorasse, e pela manhã só encontrassem os meus oclinhos na cabeceira.

No sofá, dois era o maestro de uma orquestra de risos.

2: (apontava pra 1)

1: hahahahhaha!

2: (apontava pra 3)

3: hahahahha

2: (gesto geral)

todos (1,3,4,5,6,7):hahahahahaha!

2: (levantando as mãos, as palmas abertas viradas pra cima)

todos: hahaHAHAHAHA!

2: (aquele gesto que o Jô soares faz)

todos: silêncio.

Colocamos a batata no forno mas ela não ficava pronta nunca. Enquanto isso, 1 tentava convencer 4 de que estávamos todos normais menos ela (4).

1: é pegadinha!!! (e apontava para a parede) Olha a câmera ali!!

Tenho a impressão de que quatro acreditou. Alguém checou as batatas pela décima vez. Ainda não estavam prontas.

1 e 2 e 6: vamos pra cozinha. Todo mundo pra cozinha!

Fomos todos.

1:vai. Todo mundo perto do fogão.

3: pra quê?

1: vamos fazer calor humano pra ver se elas não assam mais rápido.

Risos.Todos obedientes ao redor do eletrodoméstico.

Sobre o colchão, me virei de novo, resmungando alguma coisa. E o barulho que a gente fazia no resto da casa não me deixava dormir.

***

hoje, completo um ano destes improvisos. mesuras a todos.