croniqueta
“Não importa o que a gente escreve. Palavras são sempre eufemismos pra vida”.
Eu já vinha reparando que sofro da mesma mania. Excesso de “vida”. E de “mundo”. Aliás, por isso o ridículo “elas são da vida, mas não do mundo” de um certo poema bêbado nosso. Por isso o “seria tão profundo, se não fosse tão idiota”. É fácil demais. É só por a palavra vida, fica tudo poético.
Tinha uma professora que odiava que usássemos a palavra “coisa”. Eu a adoro (a palavra “coisa”, não a professora). Eu a adoro, por que ela me poupa do trabalho doloroso de encontrar a palavra correta que definiria exatamente do que estou falando. Me poupa de ser direta e de revelar mais do que eu gostaria. Daí a proliferação de coisas, vidas, mundos, tudos.
Mas se dar conta de que não consegue escrever sem aquela palavrinha é horrível. É óbvio que estávamos fazendo literatura de segunda. O que fazer? Bani-la. É proibido usar a palavra vida (se bem que já devo ter usado umas 8 vezes nesse texto), íamos ter que nos virar sem ela, por um tempo. Só que vícios como esse são difíceis de abandonar, assim, do nada. Então, por ora, vamos apenas trocá-la. Onde ficaria “vida”, agora estará escrito “putaria” (a palavra que substitui “mundo” não é algo que se deva escrever no blog de uma menina de família). E quer saber? Cumpre a função muitíssimo bem. É capaz que, daqui pra frente, vocês se deparem com coisas como:
“A putaria fica mais fácil com conversas à toa, regadas com vinho barato” (da gaveta)
“Claudinhazinha e as mulheres da putaria”
“Ele é o homem da minha putaria”
ou quem sabe até:
“Não importa o que a gente escreve. Palavras são sempre eufemismos pra putaria”.
Pois é. Fazer o quê? A putaria é assim.
<< Home