sexta-feira, dezembro 29, 2006


amorecos, tenham um bom ano. Obrigado por tudo :)

Poeminha calhorda

me abraça, me beija,
me pega uma
cerveja.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

festa de fim de ano

- mãe, me faz uma com sardella?
E ela fez. Torradinha crocante, sardella apimentada. Uma delícia. Abri a boca e estendi a língua e ela pousou o acepipe gentilmente no lugar correto. Mais folga minha, impossível. Minha mãe é daquelas pessoas que fará tudo que você pedir. Imagina se destilassem o amor e pusessem numa garrafinha de rolha. Então. Você acaba de conhecer minha mãe. É claro que quando você abre a garrafa caem uns pedaços de rolha lá dentro. No caso dela é que ela se irrita e fica violenta quando não recebe as mesmas gentilezas. Ela acha que todo mundo é igual a ela e se não estão tratando ela como ela trata as pessoas, então algo deve estar muito errado. Acho que a maioria das pessoas tem essa impressão. Que no fundo, todo mundo é exatamente igual a elas. Deve ser por isso que a maior parte do tempo eu acho que todo mundo é insuportável.

De qualquer forma, mamãe passou um patê numa outra torradinha e saiu mastigando e andando, me deixando sozinha com o braço do sofá e duas tias que conversavam entre si. Enquanto isso, na cadeira ao lado, papai dizia pela décima vez consecutiva que era AQUELA música, agora sim era AQUELA música do Phil Collins que parecia uma reza, olha só ele ta falando com deus, com certeza é essa música, agora é ela. Parece uma reza. Pai, não é essa. Essa é de amor. Olha lá na legenda, So take a look at me now, oh there's just an empty space, tá vendo? Não é reza não, é música de fossa. Ele troca pra próxima. È essa. Tenho certeza que é essa. Olha só, parece uma reza. Perco a paciência e faço o enorme esforço de me fazer uma torrada com sardella, já que mamãe já fugiu da missa do Phil Collins há tempos. Sento no braço do sofá, deixando vago meu lugar, ainda com o baixo relevo da minha bunda, e sigo observando os que vêm e vão em busca de patês e migalhas de conversação. Do que é esse daqui? Não sei, não provei, mas acho que é de azeitona. É, tem cara. É. Vou provar. Boa.
Pausa incômoda para mastigação. E aí, é boa? Hum-hum. Vou até ali. Tá.


Mais uma torradinha. Incrível como o tédio dá fome. Pra ficar com as mãos ocupadas, pra distrair. Ou pra mexer a mandíbula e fingir pro seu corpo que você tem alguém pra conversar. Vou me afastar da mesinha de antepastos. É preciso. Sinto muito, sardella, mas é preciso. Você sabe que eu te amo, mas não há outro jeito. E além disso, mulher, tem outras coisas... ninguém come enquanto eu não me afastar. Sooou fiilho único... Ok, chega. Até a sardella já está me estranhando. Me levanto de impulso e não olho pra trás ( eu sei que ela vai estar me olhando. A sardella. A sardella jamais perdoa o abandono). Olha lá, é a prima Bete. Magrela e de olhos enormes, meio cabeçudota. Bete, o pirulito humano. Olá Bete-o-pirulito-humano ( a parte do pirulito eu suprimi do cumprimento). Oi, Vi, tudo bom? Ah, tudo e contigo? Meio cansada, sabe como é... Ah, sei. Final de ano. É. É. E o trabalho como vai? Ah, bem. E a faculdade? Legal. Gostei da tua blusa. Valeu, é nova. Bem legal, mesmo. Sorriso. Sorriso. Vou ver se precisam da minha ajuda na cozinha. Tá.

Umas dez pessoas tiveram a mesma idéia. Eles já tem esquentadores de arroz ( com amêndoas ou com uvas passas), destrinchadores de aves, misturadores de drinques e pessoas orquestrando o balé , agitando as mãos e dizendo Pega aquilo ali no forno? Cadê a travessa da farofa? Rúbia, vai fazendo o molho da salada, etc. Levo um tapa na mão por tentar surrupiar uma ameixa de dentro do côncavo de um pêssego que repousava tranqüilamente recostado num daqueles chesters todos espetados com cravos que mais parecem o hellraiser. Ok, ok. Não querem que eu leve alguma coisa pra algum lugar?

Saio com uma bela bandeja de salgadinhos quentes. Oi Bete-pirulito-humano, vai uma coxa-creme? Pega mais, pega mais. Isso, põe num copinho de plástico e leva pra casa ( suprimi tudo que veio depois de “Bete”). Posso pegar outro?, ela diz. Claro, como não?, eu digo. Levo os salgados para um tour. Vejam bem, esta é a sala de estar. Ali é a copa onde o tio zeca dançou a macarena sem camisa no natal de 1993. Mais pra frente, o lavabo, onde as pessoas de bem lavam suas mãos. Sem fotos por favor. Ah, é de queijo, Deco, pode pegar. Não é croquete, não, juro. A faculdade? Anda bem. Sim, a blusa é nova. Já disse que é de queijo. Sim, tenho certeza de que não é croquete. Viu? Fresco ( esse último adjetivo eu suprimi).
Na sala, Phil Collins faz sua 13ª oração. É uma verdadeira missa do galo.
Quer uma empada, pápi? É frango ou palmito? E eu sei lá? Putz, é essa! Olha agora, parece uma reza. Sei. Acho que é de palmito. Tó. Era a última. Corro pra cozinha e me livro da bandeja. Sento no querido braço da poltrona. Sardella, oh, querida sardella. Prometo não abandoná-la jamais. Ficarei contigo até o fim. Ao menos até a hora da ceia. Venha aqui sardella, venha aqui pertinho da minha torrada. Sardella... putz. Acho que toda essa música do Phil Collins tá me botando romântica.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

curtelhas aniversariais

E também é mar
este céu que paira
sobre as nossas cabeças

**

Perguntaram. Menina, porque você suspira tanto? Você só tem 21 anos.
E eu pensei. Exato. Eu suspiro por que eu tenho 21 anos. Quando eu tiver 22, daí vou começar a gritar.

**

é uma coisa engraçada
o jeito que a idade acontece:
quanto mais velho a gente fica,
menos a gente cresce.


**

fechar os olhos e soprar as velas
é tudo o mesmo desejo:
desfaça-se a luz!

**

corri pra tirar as roupas do varal
antes que a escuridão da noite
me manchasse os lençóis

terça-feira, dezembro 19, 2006

das tragédias

Na desertidão abafada
No silêncio suspenso do depois da catástrofe
Vê: a silhueta ao longe
o poeta ainda anda
por entre os escombros
se abaixa
cata estrofes
e vai se curvando
com seu peso nos ombros.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

parcerias: Em branco e preto

com aline

As coisas se passaram de jeito muito simples
Assim como quem atravessa a rua
Ela deixou comigo uma coisa sua
E não percebeu que o meu olhar a deixava nua
Ela ainda espera que a chuva a limpe
A pele seca sob a luz da lua

A lembrança do toque guardado atormentava o juízo
Na meteorologia de dentro, chuva e granizo.
Tempestade fria noite a dentro
Um calor veio sem aviso
E a ausência vira tormento.

E assim, aos poucos, foi passando-se o tempo.
O verbo tornou-se parte
E transformou-se em arte.
Os sentimentos não tão confusos quanto antes:
Tornamo-nos amantes.

terça-feira, dezembro 12, 2006

do porquê e como pular corda

E descobri que 2,19 jardas de nylon podem ser minha terapia. Então quando vem aquela pressão no peito que não se sabe o que fazer com ela, eu pulo corda. Daí, quando os cubos de gelo brincam de bolinha de pinball nas minhas entranhas, eu pulo corda. (E quando você não é bom comigo, eu pulo corda). Quando o tempo se recusa a passar, ou quando o ar fica pegajoso, quando eles se esquecem de mim, quando a água fica represada lá dentro, quando o sorriso é grande demais pra vestir nos lábios, quando existem coisas que deviam voar mas não voam, quando me voltam os tremeliques nas mãos, quando caem pequenas coisas das sacadas de prédios (que tem isso comigo? Não sei.), quando o coração se debate em sua pequenina gaiola torácica. Isso. Eu pulo corda.


Tem que pular sem contar os pulos e começar devagar. Se houver dor, segurar apertado os guidões. Se houver raiva, estalar com barulho a corda no chão. Mas sempre com leveza e com os pés bem juntos, à la boxeur. E então rápido. E deixar as coisas irem sendo esquecidas. Escutar com cuidado o zunido que atravessa o ar. Olho aberto ou fechado, como preferir. Quanto mais rápido você pula, mais você pula e quanto mais você pula, melhor você pula e quanto melhor, mais rápido. Às vezes é suficiente pra derreter os cubinhos de gelo, pra movimentar o ar em volta, pra pressão distrair do peito, pra o que for. Às vezes não. Às vezes há ao menos o casulo girante e ligeiro de nylon que nem precisa mais bater em lugar algum. E as pontas dos pés tocando de quando em quando (e cada vez menos) o chão.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

deixa cair

A vida, às vezes
Dá azia
É sopa de letrinhas
Que a gente vomita
E faz poesia

quarta-feira, dezembro 06, 2006

POESIAÇA

Mais uma dos nove da paulista :)
Manguace-me, poeta das bandejas
entorpeça-me coa plenitude deste momento
[despretensioso e etéreo
etílico
que prova, mais a mais, de modo empírico
que o rebento
em grupo é aéreo e lírico
traga o copo, traga a realidade
sua fuga
transubstancie ternura etílica, diga!
traguemos deste ar, deste espírito
delírios, ilusões, doideiras híbridas
tracemos nesse mapa o nosso vôo
incrivelmente lúcidos e lúdicos.
Vertamos as lágrimas
de alegria
que lavam a cidade da mundície
E essa dormência, poeta das bandejas
é o que em nós se almeja.

domingo, dezembro 03, 2006

desculpa

Eu odeio machucar as pessoas, mas às vezes me parece que é tudo que eu consigo fazer.
E a culpa é tão grande que eu nem posso me olhar no espelho. A relação entre as pessoas, veja bem, é como se houvessem fiozinhos ligando peito a peito. De vez em quando, eu sinto um puxão vindo do lado de lá. Na relação entre as pessoas, veja bem, quando o fio está teso o suficiente, dá pra tirar uma nota musical. Mas os fios são tão finos, são tão frágeis que nem. É preciso ser delicado. É preciso saber tocar. Eu sei que estou fazendo tudo errado mas é que eu não sei como. Eu não sei como. Eu nunca aprendi a tocar violão.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Canto Etílico a Rayanne

by Czarina, Marla e Jardim numa calçada da Liberdade, divinha pra quem?

Véspera de sol-risos
Num céu de rayanne
Perdoa-me colega
Por esses versos não serem meus
Do meu mel
Tá aí a minha manha
Que é de hoje e amanhã
Ou talvez é de depois
Talvez seja de rã
Essa coisa tacanha
Reinada pelo deus pã
Que nossa história seja
Líquida, mas nunca escassa
Estrela que se banha
No calor das águas
Como carne sem as banhas
Como chuva sem as mágoas
Como tudo
Como
E com.