domingo, abril 30, 2006

duas pátrias

As coisas andam estranhas. Na verdade sou eu que não ando muito bem.
Mais uma daquelas ondas que tenho de vez em quando. depressiva.
Mas não se preocupem, que é coisa cíclica que já estou acostumada a rechaçar
com revistas e chocolates
(se você me vir com sacolinhas cheias de quadrinhos e chocolates, seja uma boa pessoa e vá me dar um abraço)
Ainda assim, me parece que não tenho pra onde ir.
Sei o que fazer, mas há dias o repositor já não traz o novo estoque de vontades.
Adrenalina quase zero.
Endorfina quase zero.
Meu gráfico está a um passo de disparar o "piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii"
e eu queria ficar na cama pro resto da vida
atada ao meu cão da angústia.
Ninguém entende porque eu gosto mais do meu cachorro preto do que do marrom
(que é tão doce)
ele é como eu
ele se senta sozinho
e lambe as próprias patas
ele deita comigo
e lambe as minhas mãos
(ele tem raiva de colheres
e caça criaturas no quintal que ninguém mais vê)
ele dá à umidade do meu rosto um significado mais feliz.
Por isso.
Ah, às vezes eu acho que ninguém me entende.
(sei que é tolice de minha parte)
Mas, às vezes, parece que ninguém entenderia.
Exceto, talvez, a Juliana.
A Juliana sempre dá um jeito de entender.

sexta-feira, abril 28, 2006

prestidigitação

Psicografar os textos da cabeça pro computador, eis o que eu queria!
Quando os dedos manipulam palavras,
roubam metade da magia.

quinta-feira, abril 27, 2006

poema de brechó 141

poema escrito atrás de uma nota fiscal do Pão de Açúcar, num bar/brechó, por mim e pela Da Gaveta lá pelas 6 da tarde de ontem. Depois de algumas cervejas, por supuesto. tenho certeza que todos ficarão embevecidos com a delicadeza.

[balança a cabeça]

Os tomates pintados.

Os pássaros opacos.

Currupaco. Currupaco.

O papagaio amarelo gritava “Louro quer biscoito!”

Mas os biscoitos são coisas da vida e não do mundo.

As bolachas de chope de tomate são legais, mas são impermeáveis.

Elas são da vida e não do mundo.

Sempre.

Cláudia diz: “Acho que o significado do poema são coisas que estão aqui, mas não deveriam estar. Vamos pro árabe comer esfihas”.

Renata diz: “Fica aí. Toma mais uma cerveja. E falar sobre as coisas é coisa que não interessa a ninguém”.

Pareceria tão profundo se não fosse tão idiota.

“Idiota é tua mãe e não enche o saco” – disse o papagaio.

Cadê meu biscoito?

Obrigado e volte sempre.

.da falta de chão

de que me adiantam sonhos, se não forem reais?
de que me adianta o resto do mundo, rapaz?

mas tenta vir, desilusão
vem!!!
que eu tô armada
com meias listradas
e fogos de artifício,
que eu vou esvaziar no teu precipício
cada caixinha do meu desdém.

quarta-feira, abril 26, 2006

echoes

Sentado no sofá grande e marrom, fazia absolutamente nada. O mundo girando cá a sua volta (há muito havia trocado a teoria heliocêntrica pela egocêntrica) e ele nem pra fazer um movimento de translação.
A música tocava, hipnótica, não havia nada que o distraísse, nem mesmo a cerveja gelada em sua mão. Os dedos dormentes de frio, inafastáveis da lata. Não eram apenas os dedos que estavam dormentes. Os olhos, perdidos. É fato sabido que quando os olhos se perdem é que seus donos estão à procura de coisas mais importantes.
A solidão, mais hipnótica que o som. Sabia onde estavam as pessoas mas não se importou em buscá-las. Viajava solo num casulo foguete, numa bolha, num momento extra-mundo.
Viajava pelos meandros de sua consciência. Já se perguntou por que o cérebro tem tantas dobrinhas? É um túnel, com curvas demais demais para se ver a luz. Ou o fim.
Se existe algo como entrar em alfa, sem dúvida era aquilo. Os pensamentos fervilhavam em torrente. Os sentidos absorviam tudo de forma tão sólida que o movimento era impossível.
E, dentro desse momento de fúria e lucidez, quando a música parava antes da próxima, pôde ouvir , mais alto, um dos pensamentos que desfiava.
Mais tarde, liberto do transe, seria tudo que conseguiria lembrar. Ali, naquele segundo, em um sofá marrom,ele se deu conta de que o mundo já não tinha capacidade de o magoar.

terça-feira, abril 25, 2006

*

Sombras são a invenção mais genial de toda a criação.
querendo que o dia acabe, é só dar as costas pro sol
para encontrar, a seus pés,
seu próprio fiapo de noite.

segunda-feira, abril 24, 2006

Prada, gaveta

Menina d´olho claro
que enxerga através da minha testa
bota meus pensamentos no bolso,
foge e faz a festa.

Moça de cabeça loira; ruiva; morena
com corte d´Uma Thurman; Paul McCartney; David Bowie
mantém a personalidade intacta
por mais mutante que a aparência soe.

Tranca as idéias na gaveta:
sabe que precisam dormir
pra voarem feito borboletas
na hora que a gaveta abrir.

***

da série homenagens.
e acho que seria uma hora perfeita pra você ir ler o blog dela.

quinta-feira, abril 20, 2006

frestas

Assim, sem mais, ouviu-se um estrondo.
O céu ficou craquelado. As pessoas correram pra suas casas, antes que o céu desabasse. Não desabou. Caiu um caquinho só.
Com cuidado, muito cuidado, pus minha cabeça pra fora da janela. Olhei pra cima. Faltava um pedacinho de esfera azul. E, deuses!, dava pra ver através da fresta. O ângulo não ajudava muito, não, só vi alguns pés. Isso, claro, antes do enorme olho castanho. Depois, uma série de olhos se revezaram, curiosos a olhar cá pra baixo.
Ao contrário dos homens, que sempre desconfiaram que havia algo além daquela redoma, os deuses nunca suspeitaram que tinham vizinhos de baixo.Peguei meu carro e viajei na direção do fragmento caído. Era enorme, e milhares de pessoas tinham tido a mesma idéia. Parecia um pedaço absurdo de porcelana azul e translúcida.
A vida, vendo que nada acontecia, obrigou-se a fingir que estava tudo normal. Com a diferença dos telescópios voltados todos para o mesmo ponto, o que, aliás, não adiantava, pois sempre havia um olho que nos impedia de ver o que havia lá em cima.
As pessoas, agora, olhavam pro céu não só pra saber se ia chover, mas também se alguém olhava e quem.Cientistas observavam a sucessão de pupilas, tentando adivinhar se era algum em especial que fazia chover. Nessas ocasiões, as nuvens eram sempre grossas demais para que se visse de que olho se tratava.
Era uma vigília constante. De cá e de lá. Fora de casa, por um tempo, o mundo tornou-se bom e generoso. Medo de um julgamento divino, talvez. Logo constatou-se que poder eles não pareciam ter. Só interesse, como se fossemos a mais incrível colônia de formigas.

E o mundo voltou ao que era, exceto pelo fato de que os chapéus voltaram à moda.

terça-feira, abril 18, 2006

temática

nós vamos subir a colina
em duplas, trios, quartetos
em vários
e vamos beber mojitos preparados
por uma renata lúcida
e comer batatas preparadas
em alumínio e carvão
ligar a música bem alto, pra ali mesmo dançar o tcha-tcha, o tango , o fox-trote, a conga, a polka, todas as danças de nomes legais que nunca se aprende a dançar porque só se valsa se valsa se valsa,
mas ainda assim dançaremos
fingindo que sabemos
e a gente finge muito bem.
Vamos rodopiar de pés descalços e saber que não nos levamos a sério, nos entreolhando de banda de sorrisos abertos passando debaixo dos braços uns dos outros e alguém vai gritar:
"cláudia! essa é pra ti!" batendo palmas na altura do ombro de forma bem espanhola
e eu vou cair numa gargalhada profunda e gostosa.
Daí deitaremos na grama verde molhada
quietos finalmente
olhando pro alto sem pensar em nada
nem mesmo no disco tocando esquecido
do sidney magal
e de repente o mundo gira um tantinho pra esquerda
e tudo entra em foco
tudo nítido, nítido, só por um segundo
se você tiver a sorte de ver.
então todos se juntam meio sonâmbulos
numa massa corpórea
de movimento pendular
passeando no jardim da madrugada
numa caminhada torta
e só nos separaremos pra passar pela porta.


e isso, meus caros, é o que eu chamo de festa.

domingo, abril 16, 2006

medicinal

Bom, e vamos lá de mais croniquetas medicinais. É que quando a gente vive assim no meio duma porção de médicos (pai médico, mãe médica, irmão médico, avô médico e isso ignorando todos os dentistas) a gente acaba aprendendo umas coisinhas como:
1- doenças podem ser engraçadas.
2- não é porque tá todo mundo de branco que é ano novo.
então vamos:

***
Um amigo do meu avô, sendo apresentado a alguém:
- Oi como vai o senhor?
- Ah, bem...tirando o câncer.
- Nossa, o senhor tem câncer?
- Pois é.
- E sai contando , assim, pra todo mundo?
- Porque não? Não é gonorréia...

***
Piada de médicos:
- Como se chama um casal que se previne da gravidez pelo método da tabelinha?
- Pais.

quarta-feira, abril 12, 2006

Epitáfio

Eu lhe peço que não me deixe flores. Eu já não posso vê-las, nem tocá-las, tampouco sentir seu cheiro. Não me deixe flores. Leve-as com você, ponha-nas num vaso ou seque-as entre as folhas de um bom livro. Dê-as para alguém na rua, mas não as deixe aqui sozinhas com os mortos.
Ponha-nas num copo d´água em sua cabeceira e lembre-se de mim que também estou plantada fundo na terra, e que também amei as flores.
E seja feliz enquanto é primavera.

terça-feira, abril 11, 2006

BEBAbsinto


E eis que fica pronto o primeiro número do Absinto, o projeto de zine que surgiu numa porralouquice tremenda semana passada e amanhã já estárá nas ruas. quer dizer, nos botecos perto da faculdade, por aqui, por ali, enfim: onde pudermos deixar umas edições.
Tou bem orgulhosa de como o bicho saiu bonitinho, pra uma publicação em P&B de xerox. O conteúdo é filho em conjunto com a Da gaveta, a Mãos Coloridas, o Mistery Man, além do nosso colaborador desaparecido que bobeou e não mandou o texto a tempo...pois é, deadline aqui é coisa séria.
Da minha parte tem mais coisa do blog mesmo, coisas mais velhas e mais novinhas, além do editorial e da super lindissima imagem de capa que é, sim!, de minha autoria. E ai de quem disser que não é lindíssima.
Interessou? Quer ler, imprimir, mostrar pros amiguinhos? Mande um e-mail pra czarina aqui ou para bebabsinto@gmail.com que te mandamos o PDF.
OPA!! Agora vc pode fazer o download diretamente aqui.
E lá vamos nós.

segunda-feira, abril 10, 2006

broken

Dizem de certas pessoas que quando deus as fez, quebrou a fôrma. Pois bem. Assunção foi feita numa fôrma já quebrada. Não que seja feia ou lhe falte um pedaço. É uma moça normal.
Mas repare bem, e você vai ver. Vai ver que quando ela anda há qualquer coisa de mecânico. E quando ela sorri, dá pra sentir as molas empurrando a pele. E quando ela fecha os olhos seus cílios tremem. E quando ela dança, pode-se ouvir seus ossos estalando sob a carne.E mesmo que não dê pra ver, tenho certeza que o tempo todo suas vísceras giram em espirais.
É coisa certamente muito irônica que ela seja desse jeito. Por que quando Assunção te olha, tudo o mais parece perfeito.

sábado, abril 08, 2006

hollywood

Finais felizes são bobos. Bobos, inverossímeis e previsíveis. Quer ver?
A casa desmorona. Mas, segundos depois, vemos sair o herói, levando um nenê, dois gatos e as cortinas de seda.
Ou: Ele muda de idéia, percebe que a ama. Só que ela está indo embora. Ele corre, ultrapassa obstáculos, rouba a bicicleta de uma criança, entra em áreas restritas ajudado por pessoas comovidas. Só a alcança quase ou já no avião. Se declara. Todos batem palmas. A aeromoça chora. Beijo. Pode cortar ou não pra cena do casamento. Se sim, a amiga solteirona pega o buquê. Pôres-do-sol a gosto.
Ou ainda: O moço leva um tiro no peito. Alguém grita seu nome em câmera lenta. Ou a palavra "não", como preferir. Alguém se aproxima chorando e diz:" não morra fulano!". Fulano tosse dramaticamente. Depois tira do bolso a moeda da sorte que sicrano deu. A moeda parou a bala. Se abraçam, chorando.
Pois é. Finais felizes são ridiculamente previsíveis.Mas, ah, como queríamos que acontecessem na vida real!

quarta-feira, abril 05, 2006

canção do sem-teto

eu durmo na rua
moro por onde você anda
mas duvido que sua varanda
tenha melhor vista da lua

eu não tenho parede vizinha
minha casa é o município
por isso eu parto do princípio
que sua casa é menor que a minha

minha cama é o asfalto
o céu eu chamo de teto
quero ver seu arquiteto
fazer um pé-direito mais alto.

terça-feira, abril 04, 2006

"oi, me vê um resfriado?"

Bom, é claro que vocês todos sabem que a vida é uma loteria. Loteria genética, entre outras coisas.
Mas digamos, assim, só por brincadeira...que antes de nascer você pode ir até a Central de Doenças , Males e Anomalias e requisitar a doença de sua preferência. Não a troco de nada, claro. Você escolhe de acordo com sua preferência, pesa as vantagens e desvantagens, se compromete a padecer tranquilamente do seu mal favorito. Em troca, tem a certeza que não terá doenças piores, mais dolorosas ou mais inconvenientes.
Aqui estão as doenças que seriam top na minha lista.
1- SÍNDROME DE LA TOURETTE
Quem me conhece, conhece a síndrome de LaTourette. É um distúrbio nervoso. Acontece que eu quero só uma variante dela, meio rara. Enquanto nas outras variantes a pessoa só tem tiques nervosos, nesta a pessoa desata a gritar palavrões, de repente. É interessante, eu seria a alma das festas. Não há sofrimento físico (não escolhi nenhuma com sofrimento físico). Mas o melhor de tudo, uma vez que as pessoas sabem da sua condição é poder xingar todos seus desafetos, ainda que seja seu chefe, um policial, um juiz, sua sogra, seu melhor amigo e assim por diante. Fui eu não gente. Foi La Tourette.
2- SÍNDROME DE ASPERGER
Outra doença camarada. Muitas vezes é confundida com genialidade. Dizem que Einstein tinha.
O problema dela é o seguinte, você é extremamente incrível em uma área, mas o dobro de medíocre em outras. Eu não me importaria. Do que me adianta ser só levemente medíocre em quase tudo? Por que não ser ruim de vez, e absolutamente brilhante em apenas uma coisa? Asperger já criou grandes pianistas, matemáticos, físicos... geralmente com problemas pra se relacionar com pessoas. Pensando bem, eu nunca fui boa com pessoas. E sou bem medíocre, pra ser sincera. Alô, é da Central de Doenças , Males e Anomalias? Vocês só esqueceram de entregar a parte da genialidade.
3- SINESTESIA
Acho que é minha favorita. Ganha disparado das outras duas. A Sinestesia não chega a ser uma doença, acho, tá mais pra anomalia. De origem neurológica. Tipo uma conexão entre áreas sensoriais do cérebro. Daí você sente o gosto das palavras. Daí você sente a temperatura dos sons. Daí você vê as cores dos gostos. Já pensou? É a abolição da metáfora. Fulano me disse umas palavras doces...literalmente! O mundo deve ser dez vezes mais interessante. Dizem que quem usa LSD tem sensações parecidas. Imagina passar a vida inteira assim.

E é isso! E vocês? Alguma preferência?Gripe também vale.

domingo, abril 02, 2006

...

ah, mas que tristeza, precisar de motivos pra ser feliz!
de agora em diante vou ser feliz
só porque sim.