sábado, fevereiro 04, 2006

OLD BEETLE

* essa história foi escrita pelo meu irmãozinho, e é baseada em fatos reais. Como protagonista, meu amado fuscão.ENJOY.*

Era um belo dia...Lá estava eu, saindo de casa para a Liga de Saúde Mental*, quando dou de frente com meu pai.
"Filho, hoje não é seu rodízio? Aproveita e dá uma andada com o FUSCA, ele está tinindo!"
Haviamos consertado o carro no início do mês, e realmente ele parecia funcionar bem, até pensei em ir de gol e esperar até as 8 pra poder sair da liga, mas resolvi aceitar o desafio;
Afinal, quantos tem um fusca em casa? E ainda mais "TININDO"?
Lá fui eu, aqui pelas ruas do pacaembu, o carro como um verdadeiro bólido prateado, fazendo aqueles barulhos de moedor de cana, típicos de fusca, o que me deixava feliz e satisfeito.
Após um tempo, entrei na Av. Rebouças, rumo à marginal, quando tive a primeira "surpresa", ao olhar para o marcador de gasolina percebo que este está quebrado. "Será que alguém pôs gasolina?", me indaguei, enquanto pensava em voltar e já logo desistia, olhando o sentido contrário da via e constatando um trânsito desanimadoramente pesado.
Conclui que não deveria desistir tão fácil e parei em um posto de frente ao Eldorado, próximo a Cardeal.
Começo a notar certa dificuldade dos frentistas em abrir o tanque de combustivel do "veículo".
Após um tempo um deles diz... "Não dá não moço... faz um bocado de tempo que ninguém abre isto aqui!".
Tento também, em vão. Um negão do tamanho de um armário também tenta.. mas nada feito.
Não é que um outro frentista, um baixinho mirradinho, com um puta sotaque nordestino olha pra cena e começa a cascar o bico!
"Mas ceis num intendi é nada di fusca! Oxi! É só tacá os querosene que resolve"
Dito e feito... o querosene dissolveu o "não-sei-o-que" que impedia a abertura do tanque e rapidamente os 40 reais de gasolina foram postos, o suficiente para ir e voltar.
Aliviado, entrei no carro, mas em poucos segundos meu alívio transformou-se em pavor...
Percebi que o fusca não pegava. Simplesmente não acreditei, enquanto meus novos amigos frentistas também olhavam estupefatos.
Alguns segundos após, dois deles já empurravam o meu "old beetle" avenida rebouças afora.
o sorriso (ou pelo menos tentativa de) de alguns desdentados no ponto de ônibus completava a cena dantesca, agravada pelo fato de alguns deles sentirem pena e tentarem ajudar,empurrando também.
"A que ponto chegamos...", pensei
Neste momento o carro pega e durante mais alguns segundos pude sentir felicidade.
Meu primeiro pensamento foi "O carro está pegando e já vim até aqui, então o resto é lucro. Portanto, vou tratar de relaxar!".
O grito de um office boy, com sua pastinha embaixo do braço me despertou de meus pensamentos.
"Só não deixa morrer hem! Senão, já era."
Novamente tenso entro na Marginal Pinheiros, com os gloriosos 70 km/h que o turbo prata me permite, com sua potente quarta marcha (para os que não sabem, a última).
Durante os 15 km de Marginal enfrentados garanto que ouvi todos os xingamentos, como "leva essa geladeira pra casa" ou "Quer Morrer?!", além dos buzinaços (o fusca sempre atraia buzinadas coletivas, nunca de um carro só).
Ao chegar em um farol demorado, notei que o som do motor do carro enfraquecia, portanto tive que dar algumas aceleradas, em ponto morto é claro, antes que o carro morresse e eu ficasse por lá mesmo.
o cara da frente achou que eu era louco e estava acelerando em cima dele, me mostrando o dedo do meio.
Mais ainda; ele estava num passat 86 branco juntamente de outros companheiros que completavam o conteúdo negro do carro, que tinha retrovisores prateados.
Pensei que eles poderiam descer e me matar mas logo lembrei "Estou num fusca prateado, estamos quites".
Após algum tempo, cheguei ao estacionamento do HEWA, onde poderia parar o carro e esquecer dele por um tempo.
Lá travei um pequeno diálogo com o segurança.
- Pois Não?
- Liga de Saúde Mental
- Paciente é na outra porta, e a pé
- Eu sou estudante!
- Ah desculpe, sabe como é, o carro, achei que o senhor fosse... deixa pra lá, pode entrar.
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*ele é estudante de medicina.